A grande mãe

A genética, há algumas décadas, desvendou a parte biológica da concepção, mostrando o longo e cheio de obstáculos percurso que o espermatozóide realiza à procura de um óvulo para fecundar, sendo que boa parte das vezes eles saem da toca e nada há do outro lado esperando.

Certo dia, algo acontece e os dois gametas se encontram, dando início ao mistério de uma única célula se dividindo para formar um novo serzinho. Procedimento complexo, na divisão formam-se tecidos com funções tão diferentes como a massa cerebral e o estômago. A natureza desenvolveu este método para sua criação.

A mulher empresta seu ventre para esta divina criação, em seu vaso-útero durante nove meses esta grande alquimia da vida vai se construindo. Nove meses de gestação, nove meses em que o bebê tem alimento, calor, proteção, um espaço só dele, bem a maioria, pois alguns chegam ao pares ou em trios. Até que esse espaço fica apertado, não comportando mais a expansão desta criatura, tal como a lagarta precisa se livrar do casulo para virar borboleta, o bebê precisa sair e, quando ocorre de forma natural, ele o faz apenas com a ajuda da mãe, o médico ou a parteira ficam só na supervisão.

Mãe e filha. Tribo Araweté (conhecida também como Bide) – Pará

Para o bebê trata-se de um exercício instintivo de luta pela sobrevivência, mas também de confiança. Nascer é uma entrada num universo desconhecido, sublime, nos liga ao divino que fornece a centelha da vida.

Na nossa espécie, os bebês não nascem prontos, muito pelo contrário,  chegam precisando simplesmente tudo, sem sequer identificar o que precisam, na total dependência de sua mãe que deve descobrir se ele tem fome, sede, frio ou doenças e proteger de todas as formas este serzinho tão vulnerável.

E isso é só o começo da história, pois o rebento precisa receber muitos ensinamentos, desde fazer xixi no piniquinho até matemática,  passando pela linguagem e pela distinção do certo do errado. Em suma, todos os elementos da cultura, suas ferramentas para a vida e para seu aperfeiçoamento moral. A mãe tem um trabalho diário de formiguinha, o pai também, é preciso dizer. Só no amor para dar conta do recado…

A maternidade inaugura uma relação para toda vida, o filho vai lhe fazer rir e chorar, pode rodar o mundo ou rodar no mundo, ele será sempre seu filho. E a sabedoria da grande mãe é continente, como a terra que espera o tempo da árvore para dar flores e frutos e sempre a tudo acolhe.

Parabéns a todas as mães do mundo e principalmente à minha, dona Patrícia, a minha mãe.

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Arquivado em Ideias, Inspiradores, Papo de áquia

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