Há tarefas na vida que jamais imaginamos que vamos a desempenhar, nem queremos pensar nisso, sem sabermos como, um dia estamos com a missão nas mãos.
A roda da vida gira, imperceptivelmente, na maior parte do tempo, em outras o giro é brusco, como a dizer: Terminou aqui.
Nestes dias de experiências familiares fortes, começamos com a minha irmã a dura experiência de fechar as portas da casa de nossos pais. Vender os móveis, doar roupas e utensílios, jogar fora o que não presta. Passar para frente uma casa que abrigou nossas vidas por quase 25 anos. Até o pó da casa tem a nossa história familiar, nossas lágrimas, nossas risadas, nossas dores, pensamentos, esperanças e projetos.
Ao limpar, repassamos cada canto, cada folha de papel, objetos cotidianos, bem como aqueles perdidos lá no fundo do baú de nossas lembranças, aquelas que imaginávamos perdidas para sempre.
No percurso me vi confrontando aquilo que imaginaram para nós principalmente os pais -que sempre têm muitas ideias para nós…- com aquilo que fizemos… é bom poder passar a limpo e jogar fora o que não foi.
O momento permite revisitar aquela criança que fomos, pequena, medrosa, frágil, talvez sentir que ela ainda está lá escondida dentro do armário e possamos dizer-lhe:
– Bom te ver, tudo certo. Você era uma menina, mas foi muito forte e corajosa! Já fez tanta coisa que sequer imaginava!!! Olhe só! !
Como se a vida estivesse a nos colocar uma oportunidade para limpar dores e ressignificar visões, ideias e pensamentos.
O aprendizado do momento é perceber que tudo um dia chega ao seu fim… A alegria e o sofrimento, até o que parece mais sólido se esvai, parafraseando o filósofo. No fim, só restam as memórias.
O momento parece estar a dizer-nos, aproveite a vida, lembre que a semente morre para renascer. A vida caminha em ciclos. Nossos avôs deixaram suas sementes, nossos pais, e estes a nós, cabe a nós seguir a senda e ir semeando coisas boas.
Papai gostava bastante de plantar, na sua horta no pequeno terraço tinha morangos que saía distribuindo pela vizinhança, como me lembrou Anita, a vizinha do apartamento de cima, mas acho mesmo que ele gostava de árvores e vê-las crescer… Fico muito contente que nos últimos anos ele pode plantar várias, cerejeiras, pessegueiros, atrapalhando o jardim da minha irmã, mas ele era assim mesmo…