A Páscoa sempre foi um evento familiar marcante. A família Aravena Cortes tinha uma religiosidade particular, mamãe Patrícia, filha de um comunista chileno de carteirinha, fez primeira comunhão escondida dos pais, não era muito de ir à igreja, mas quando precisava de uma força extra, não titubeava em pedir diretamente para o divino. Já meu pai, Alfredo, não gostava de rezas, um engenheiro materialista, à sua maneira, se alinhava na concepção da religião como o “ópio do povo”, entretanto, no dia de seu enterro viemos a saber que ele fora coroinha na infância, meu tio Miguel que nos contou – deve ter acontecido algo sério para ele ter ficado muito chateado com a igreja-, mas papai sempre respeitou as opções espirituais de todos e acompanhava dona Patrícia em todas as suas promessas, uma delas feita em um domingo de Ramos, quando ela pediu um segundo filho. Nove meses depois chegou minha irmã… Meu pai nos deixou nas primeiras horas de um domingo de Páscoa, há dois anos, mas também, num domingo de Páscoa, alguns quantos anos atrás, o meu amor me ligou, e, claro, não posso deixar de dizer, que minha pequena Renata chegou em uma semana Santa.
Coincidências? Como boa junguiana, não acredito em coincidências e, como pesquisadora dos saberes ancestrais, acredito no ciclo da vida.
Compartilho estas histórias familiares para lembrar que a força da vida aponta sempre para a renovação. Há muita coisa errada na cidade, no país e no mundo, mas o grande terreno da transformação está no interior de cada um. Não se muda o mundo se eu já cristalizei as minhas verdades, se eu não mudo uma vírgula do meu pensamento, nem das minhas ações.
Feliz renovação!
Feliz renascimento!